TEREZA CRISTINA - A ÚLTIMA IMPERATRIZ DO BRASIL

Teresa Cristina de Bourbon-Duas Sicílias, cujo nome completo em italiano era Teresa Cristina Maria Giuseppa Gasparre Baltassarre Melchiore Gennara Rosalia Lucia Francesca d'Assisi Elisabetta Francesca di Padova Donata Bonosa Andrea d'Avelino Rita Liutgarda Geltruda Venancia Taddea Spiridione Rocca Matilde (Nápoles, 14 de março de 1822 - Porto, 28 de dezembro de 1889), foi princesa do reino das Duas Sicílias, do ramo italiano da Casa de Bourbon, e a terceira e última imperatriz-consorte do Brasil, esposa do imperador Dom Pedro II. Foi a mãe da princesa Isabel e D. Leopoldina, princesa imperial do Brasil e princesa do Brasil, respectivamente.
Era filha de Francisco de Bourbon-Duas Sicílias, membro do ramo italiano da Casa de Bourbon - à época, príncipe herdeiro do Reino das Duas Sicílias e, mais tarde, rei Francisco I (Francesco Gennaro Guiseppe Saverio Giovanni Battista di Borbone-Due Sicilie) - e de Maria Isabel de Bourbon, Infanta de Espanha (em espanhol: María Isabel de Borbón y Borbón), segunda esposa de Francisco I.
Como princesa, teve uma educação esmerada: belas artes, música, canto, bordado, francês e religião. Possuía natureza sensível, inteligência apurada e inclinada naturalmente ao culto da arte, tendo sido educada e instruída pelo professor monsenhor Olivieri.
Estudiosa da cultura clássica, interessou-se especialmente pela arqueologia e as descobertas que estavam sendo realizadas, na sua época, em Pompeia e Herculano. A jovem princesa financiou e conduziu as escavações em Veios, um sítio etrusco, 15 km ao norte de Roma. Esta é a razão pela qual, anos mais tarde, já casada com D. Pedro II, Dona Teresa Cristina ser conhecida como "a imperatriz arqueóloga".
Não sabemos a razão do fato de Teresa Cristina ser levemente claudicante (manca). Pode ser que a causa tenha sido uma queda no sítio arqueológico, ou um problema congênito pré-existente. O certo é que, devido a sua deficiência, ela ocupava a maior parte do tempo com seus estudos, a literatura e as artes, ao contrário de outras princesas, que apreciavam os bailes e as danças. Os biógrafos comentam a sua existência modesta, sem nenhum aparato, no velho Palácio Chiaramonti.
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Chegou ao Brasil no dia 3 de setembro de 1843, às 5 horas e 35 minutos, com o céu escuro devido a chuvas e ventos fortes, a bordo da fragata Constituição na Fortaleza de São João (no atual Bairro da Urca - Rio de Janeiro), acompanhada pelo irmão, o príncipe Luís, Conde de Áquila, que se casaria com Dona Januária, irmã do Imperador.
O desembarque ocorreu em 4 de setembro sendo que a Fragata Constituição foi precedida pela Corveta Euterpe, que anunciou aos brasileiros a chegada da imperatriz. Entraram no porto, logo depois a Corveta Dois de Julho, e mais uma nau e três fragatas napolitanas).
Há quem afirme que, ao conhecer a esposa, com quem casara por procuração, D. Pedro teria cogitado em pedir a anulação do matrimônio por conta de seus minguados atributos físicos: era baixa, manca e feia. Alguns cronistas relatam que o casamento só teria se consumado um ano depois e que o imperador só não remeteu a esposa de volta à sua terra natal graças à intervenção de D. Mariana Carlota de Verna Magalhães, Condessa de Belmonte e ama do jovem monarca.
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Apesar destes percalços iniciais, o casamento duraria 46 anos. D. Teresa era dotada de raro senso de cordialidade. Discreta, caridosa e inteligente, conquistou a estima do marido graças ao interesse comum em assuntos culturais. Na frota que a trouxe ao Brasil fez embarcar artistas, músicos, professores, botânicos e outros estudiosos. Aos poucos, enriqueceria a vida cultural e científica brasileira, mandando vir de sua terra as primeiras preciosidades artísticas recuperadas de Herculano e Pompeia, enviadas por seu irmão, Fernando II. Boa cantora e boa musicista, alegrava o palácio com saraus constantes.
"Traço comum entre os napolitanos, a voz bonita e educada da imperatriz seria mencionada por um diplomata francês, citado por Afonso de Taunay no livro 'No Brasil de 1840': “Em fevereiro de 1844, um diplomata em trânsito, Jules Itier, visitando a Quinta da Boa Vista, parou, espantado, junto às janelas do Paço. ‘Era uma voz feminina, admiravelmente bem timbrada, que emitia as notas da famosa ária rossiniana Una voce poco fá’. Um bom piano acompanhava a cantora. Quis aplaudir e conteve-se. Porque surgiu, no balcão, a própria imperatriz”.
A imperatriz possuía dotes artísticos que nem todos conheciam e hoje são pouco comentados. Enquanto cuidava de suas filhas em um dos jardins do Palácio de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, denominado então "Jardim das Princesas", Teresa Cristina demonstrou o seu conhecimento e talento para o mosaico. Utilizou-se de conchas, recolhidas nas praias do Rio de Janeiro, e cacos das peças de serviço de chá da casa imperial que ela utilizou com argamassa para recobrir os bancos, tronos, fontes e paredes do Jardim das Princesas.
Um episódio bastante interessante, que pareceria até retirado de algum romance policial da época, repleto de ação e com grande repercussão junto à imprensa, desenrolou-se em 1882, quando foram roubadas as joias da imperatriz. O acontecimento foi coberto pelos principais jornais da corte, merecendo inclusive vários artigos de José do Patrocínio, e foi recentemente estudado por Ricardo Japiassu Simões , sendo também descrito por Bárbara Simões Daibert e Robert Daibert Júnior
"Na madrugada de 17 para 18 de março de 1882, um ladrão entrou sorrateiramente no Palácio de São Cristóvão, residência da família imperial, e surrupiou de dentro de um armário todas as joias da imperatriz Teresa Cristina e de uma de suas filhas, a princesa Isabel. O tesouro foi avaliado em 400 contos de réis - verdadeira fortuna na época. Mas o escândalo que se seguiu, cheio de lances mirabolantes, deu-se menos pelo valor do furto do que pelo seu potencial conteúdo político. (...) A sete anos do golpe militar que proclamou a República, quando a abolição da escravatura e outras questões candentes eram debatidas em todas as esquinas da Corte por contendores apaixonados, o assunto não poderia deixar de se transformar, de fato, num prato cheio para a oposição. (...) Este seria apenas o começo de uma eletrizante novela, (...) que a imprensa soube explorar de maneira tão sensacionalista quanto impiedosa. Pela primeira vez no império, a roupa suja da monarquia era lavada no meio da rua, para desgosto de uma família que cultivava a discrição como um dos seus principais predicados. As joias roubadas haviam sido usadas dias antes, numa cerimônia no Paço da Cidade. Após o baile que comemorou os 60 anos de Teresa Cristina, o casal imperial havia seguido para Petrópolis. Antes disso, os ornamentos de valor foram depositados numa caixa, entregue a Francisco de Paula Lobo, funcionário do serviço particular, que deveria guardá-la em segurança. Como o criado não encontrou a chave do cofre, foi, em companhia de outro empregado, José Virgílio Tavares, até os aposentos imperiais e guardou a caixa dentro de um armário comum, de onde as joias desapareceram. (...) Dias depois, uma carta anônima apontou a localização das joias. Estavam dentro de latas de biscoito, enterradas em meio a um lamaçal, nos fundos da casa do suspeito. Com a ajuda do próprio Paiva, policiais cavaram o chão e encontraram o tesouro composto de dezenas de adornos raros e valiosíssimos, entre eles pulseiras, broches, comendas e colares de ouro incrustados de centenas de pérolas, brilhantes e outras pedras preciosas. (...) Prevalece a imagem de uma Teresa Cristina passiva e silenciosa, embora se soubesse que ela era muito ciumenta e, como uma mulher comum, não poupava a pessoa do imperador nos seus ataques de fúria. Teresa Cristina chegava a dar beliscões no marido quando, nos camarotes dos teatros, percebia que ele estava observando, de binóculos, as mulheres do palco e da plateia. Teresa Cristina parecia representar o papel de “boa mãe dos brasileiros”: indignada, mas calada, pacífica, amável, religiosa, traída, e ainda por cima... roubada
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No desembarque em Portugal retirou-se para um hotel simples, na cidade do Porto, onde sentiu-se mal. Um médico chamado às pressas nada pôde fazer. Suas últimas palavras teriam sido: "Brasil, terra abençoada que nunca mais verei". Era 28 de dezembro de 1889.
Sobre as exéquias, escreve Mary Del Priore: "De novo Portugal, Porto, igreja da Lapa. Irmãs de caridade velavam o corpo embalsamado de Teresa Cristina numa câmara mortuária tão cheia de flores que mais parecia um jardim. “O enterro da imperatriz foi um acontecimento. Foi feito com muito respeito e todos mostraram muito sentimento. Dom Pedro Augusto tem uma cara de apetite simpática e bonita. Esta é minha opinião de relance. As irmãs de caridade são da mesma opinião” — escrevia para Paris a cunhada de Eça de Queiroz. A cara bonita era conhecida como a “daquele que vai ser imperador”. Satisfazendo o desejo de D. Pedro, o corpo foi trasladado para Lisboa e enterrado em São Vicente de Fora, panteão dos monarcas portugueses. Estavam presentes, também, os d’Eu, a melhor nobreza de Portugal segurando as alças do caixão, além dos representantes da Áustria e da Alemanha. Saudades da “minha santa”, repetia o monarca. “Quem diria que ela subiria aos céus para orar por mim e por todos que amou e estimou na terra?”, se perguntava acabrunhado. O programa do funeral foi publicado nos jornais."
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Os jornais europeus comentaram a morte da imperatriz. Le Figaro escreveu em 29 de dezembro de 1889: “A Europa saudará respeitosamente esta imperatriz morta sem trono, e dir-se-á, falando-se dela: sua morte é o único desgosto que ela causou a seu marido durante quarenta e seis anos de casamento”.
Fotos: google e redeimperial.blogspot.com
Fonte: wickpédia e arquivo pessoal

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