Carta a Imperatriz Tereza Cristina


Sua Alteza Imperial e Real Teresa Cristina Maria Josefa Gaspar Baltasar Melchior Januária Rosalía Lúcia Francisca de Assis Isabel Francisca de Pádua Donata Bonosa Andréia de Avelino Rita Liutgarda Gertrude Venância Tadea Spiridione Roca Matilde e Bragança
Com todo o respeito à intimidade que nos aproxima por estas cartas, venho dar-lhe notícias de Brasil.
Sempre me direciono ao seu marido o Imperador Dom Pedro II e deixo-lhe pouco informada dos acontecimentos desta terra. Sei que sua saúde não anda bem, desde que foram exilados e Vossa Alteza impedida de regressar ao país que tanto se dedicou.
Fostes tão importante na organização da imigração italiana, tanto que em uma cidade vizinha ( aqui na Província de São Pedro), a padroeira é Santa Tereza D'Avila, em sua homenagem. Assim, estabeleceu-se na terra ocupada por italianos na Colônia Caxias a padroeira Santa Tereza, para que não se esqueça jamais da figura importante de nossa Imperatriz
E muito se sabe também das muitas expedições e pesquisas arqueológicas que patrocinou na Itália.
Desde o dia  em que Vincenzo Ramírez, embaixador das Duas Sicílias no Império Austríaco, se reuniu em Viena no início da década de 1840 com Bento da Silva Lisboa, 2.º Barão de Cairu, o enviado brasileiro encarregado de encontrar uma esposa para o jovem imperador D. Pedro II do Brasil. Até então, todas as casas reais procuradas mostraram-se reticentes já que temiam que Pedro II fosse desenvolver uma personalidade semelhante a de seu pai D. Pedro I, o Brasil se deparou com um mãe que deu especial atenção ao seu povo.
Seu coração naquele dia atendeu ao chamado do casamento, mas também ao de ser mãe zelosa de uma nova pátria.
Lembro-me de ouvir algumas alcoviteiras, comentarem que sua paixão a primeira vista pelo jovem imperador. Soube-se depois que nunca foi manca, mas que possuía um jeito peculiar de caminhar por suas pernas arqueadas. Lembra que riamos juntos dessa situação? Boas risadas no palácio de São Cristóvão.
Lembro de seu extravagante casamento de estado ocorreu em 4 de setembro na Capela Real do Rio de Janeiro. Tudo lindo e merecedor do afeto de ambos.
Essas imagens ficaram no passado...
O que quero dizer-lhe por estas linhas escritas  após escrever uma carta para sua filha Isabel, é que os dias no Brasil estão muito difíceis. Se o medo que sentia durante a Guerra do Paraguai com o afastamento do marido e se  genro, era grande... hoje em dia ficaria mortificada com o tamanho da violência que sua terra agregou.
Nem as forças policiais ( que na época do império era a força do exército), consegue dar conta de tanta balbúrdia e desunião entre os confederados de nosso país.
O pior é a inocência de muitas almas infantis sendo alvo do descaso e da falta de amor ao próximo.
Quem imaginaria que aos 66 anos de idade de Vossa Alteza, e muitos dedicados à caridade, receberia tais notícias desagradáveis do Brasil. 
Mas muito pode ser dito, caríssima Imperatriz - Mãe dos Brasileiros, também em favor de seu povo.
Somos ainda muito trabalhadores e ainda sofremos a opressão de uma falsa liberdade.
Continuamos lutando para colocar alguém no poder que nos encha de orgulho e que nos dê a dignidade merecida e tão sonhada consolidação da Pátria.
Nos falta grandes exemplos como de nossa Imperatriz e seu amado marido. Ao estar em seu palácio em Petrópolis, deparei-me com o jardim ainda preservado e com os caminhos onde percorria nas tardes de leitura por entre as flores.
No momento o país vive uma decadência musical e artística de grande ordem. Diferente do período em que Chiquinha Gonzaga, que foi a primeira pianista chorona (musicista de choro), autora da primeira marcha carnavalesca com letra ("Ó Abre Alas", 1899) e também a primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil. e que fora afilhada de Duque de Caxias.
Convivemos com disputas desonestas dentro da imprensa nacional e muito diversa da época onde nosso imperador recebia chacotas diárias e os deboches de uma imprensa, que não sofria censura. Hoje, sofremos censura e as chamadas "Fake News". Algo como: boatos caluniosos e cheios de inverdades capazes de destruir uma nação.
Ao findar "questa lettera" como se diz na sua língua mãe, despeço-me lembrando de algo que foi dito na fatídica noite de   15 de novembro de 1889,  quando o Brasil viu a expulsão da corte e o início da decadência de nossa gente.
Resignação, foi lhe dito, por um oficial militar. Hoje peço que mantenha a sua  enquanto nos convencemos a ter a nossa.
Aproveito para corrigir o erro que tenho cometido quando me refiro a minha tão querida Imperatriz. Na verdade devo referir-me  como Majestade Imperial Dona Tereza Cristina. Que orgulho poder proferir tal título. Coisa que jamais faremos, pois estamos vivendo em uma nação sem protocolo e sem continuidade.
Em breve irei a Teresópolis, cidade que a homenageia com muita razão e espero encontrar uma atmosfera de muito respeito a vossa imagem.  Fique em paz e aproveite as belezas do Porto.

P.S: ( post scriptum ) -  O Palácio da Quinta da Boa Vista, onde nasceu Isabel sua filha, ainda agoniza por restauro depois do incêndio que levou com ele  a história e o respeito pelo patrimônio nacional. Mas preserva algumas características nos jardins, do projeto do paisagista francês Auguste François Marie Glaziou, como a alamedas das Sapucaias.

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Foto: Alameda das Sapucaias - www. zeluizfotos.wordpress.com/tag/quinta-da-boa-vista/

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